quinta-feira, 17 de novembro de 2011

E o Lalu Lá.
Sentado, cabisbaixo, sem eira, nem beira, nem esperança, só um fio único de vida e, sabe-se lá até quando.
O Lalu lá. Esperando a água chegar e subir.
É sempre assim, vem chegando dezembro, janeiro, fevereiro, a água sobe por essas bandas, ano passado passou de metro, marrom, fedorenta, zangada na chegada e sempre lenta pra sair.
Mas de tudo Né ruim não.
Ruim é o que fica quando ela cisma e vai embora.
Rato morto, bacuri putrefato, toda espécie e imundície.
Há dois anos só no quintal ele contou quatro cachorros, um gato sem cabeça (deveria ser de despacho) três galinhas e um pato, fora os peixes e carcaças. Todos mortos, inertes, boiando inchados, bichados, fétidos, dissolvendo, fazendo brotar vermes brancos e sem olhos.
 É assim por essas bandas. É assim aqui no Jardim e não falo do Paulista, mas Helena, Helena do mal, que tem bem e gente boa, mas que abriga o Pantanal.
E o Lalu lá.
O “La” vem de Laurentino o “Lu” vem de Lupércio, falta o Silva, mas Silva é Silva. Carece dizer não.
É tudo igual ou quase igual.
Pedreiro de mão cheia, Lalu muitas coisas construiu, prédios, casas, sobrados, com muito contribuiu, mas a maldita coluna do corpo, eu falo da servical, sem cal nem cimento, do mercado o expeliu.
Vive de bico aqui e ali, quase nada a receber, exceto bom dia boa tarde dos iguais, dos Silvas, dos nadas.
Ontem ele resolveu. Saltou da cama quebrada, na ponta dela sentou o, colchão de mola saída e buraco ao centro (coberto com papelão), a colcha maltrapilha, sem lençol nem cobertor.
Coçou a cabeça e a barba, virou-se prá Dona Marina e sentenciou: “Vou raspá careca e tirá essa barba feia”. sic
Dona Marina, sonolenta ainda indagou com que dinheiro ele iria pagar, mas Lalu se antecipou e se pôs a explicar. “Num guento mais tanta coceira, isso é piolho na certa, além do mais com essa babação, essa gosma que cai na barba deixa um cheiro que não agüento e as moscas não me largam” e reafirmou a decisão: “Vou raspá”. sic
Dona Marina, crente fervorosa, idiotizada pela religiosidade, coitada, a tudo da glória, afirma não ser mais desse mundo, pra nada tem mais animação, vive louvando, sem nada, esperando a salvação. Virou pro lado e dormiu novamente, roncando um ronco sofrido com aquela boca sem dentes.
E o Lalu lá
Esperando a quimioterapia.
Onze meses já se passaram e isso só depois que uma boa alma lá o Santa Marcelina cujas gestoras de Santa nada têm. Carrascas, malditas, perversas insensíveis, capitalistas nojentas e matreiras, quem não tem convênio que morra.
Ele passou pela UBS receitaram “chá de romã” foi ao posto de saúde, conhaque com limão
Dorzinha de garganta mesmo com essa rouquidão, só pode ser preguiça das boas. Consulta só no verão.
 Tempo passa tempo que voa a dor só fez aumentar, até que aquela boa alma (doutor novinho e pele alva) se antecipou a ele decretar “é câncer na garganta isso eu posso lhe afirmar, mas prá ter certeza e tratamento a biópsia tem que levar”
Quando eu faço essa danada?
Chiii agora tem que esperar, enquanto isso siga o exemplo do glorioso José de Alencar.
Lute, tenha fé, esperança, coragem, holofotes, fotografias, visitas ilustres, noticiário, boa cama, boa comida, tratamento de primeira, lute tenha fé, Lalu.
E o Lalu lá
Sentado esperando.
Telefonema da presidente?
Recebeu sim. Mas foi da Dona Mafalda, a presidente  da Associação que entrega leite do Governo, mas foi logo dizendo “Seu Lalu ou paga as mensalidades ou o leite recebe mais não”.
Donde tiro quinze real, três meses é o que devo, mas o leite é ainda o que desce por essa garganta em relevo, que saco de vida, que merda, que vontade de chorar, mas cabra macho não chora, então eu quero vomitar.
 Bem que a revista (óia) poderia fazer uma homenagem ao Lalu.
 Uma grande matéria, falando da saída dele lá de Pernambuco, mão na frente outra atrás, a chegada a Sum Paulo, a pensão de quarto só, o trabalho de sol a sol, o namoro com Marina, os quatro filhos a chegar. A morte do mais veio (nóia) assassinado pela polícia, o do meio preso em flagrante, o mais novo virou avião. Sobrou minha menina. Marieta Lupércio a minha “Malu” Essa deu coisa que presta. Guerreira três Ms (emes) Mobral, Madureza e Mogi. Trancou o curso de pedagogia, num dá prá pagar mais não, mas um dia com a ajuda de Deus ela termina a faculdade.
Bem que a revista (óia) “veja bem”, poderia lançar na capa em letras bem grandonas A LUTA DE LALU e depois em baixo, (um idiota trabalhador). Bem que ele poderia ser político, chefiar quadrilhas de mensalões, assaltar os cofres públicos, distribuir migalhas, mentir, ludibriar, falsear, gargantear palavras vãs, mas... decidiu ser trabalhador. Honesto.
Mal nenhum desejo a pessoas, pois temente a Deus ainda sou, mas náusea me deu nesta manhã de quinta feira ao ver a foto estampada no Jornal Folha de São Paulo em mais um lance do (Reality show) em que se transformou a confortável luta do Lula. Lance a lance, meticulosamente planejado e executado, foi então que enojado, lembrei-me que... Enquanto isso,
O Lalu tá lá !!!!!
(No Brasil, em média, entre os primeiros sintomas, diagnóstico e início de tratamento, um cidadão consome 14 preciosos e irrecuperáveis meses. Tempo suficiente para agravar de tal ordem a doença que as chances de cura efetiva são reduzidíssimas).
E o Lalu???
O Lalu não está mais Lá.................................. morreu

Edson Marques
                 

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