OURO???
Olha, eu vou dizer a vocês uma coisa: É impossível compreender essa estória, sem antes olhar atenta e lentamente para o quadro de Ana Mônica que retrata a Igreja de Santo Antonio de Pádua existente, até hoje, na longínqua cidade “Cheirosa do Agreste” que fica nos confins da Paraíba, Nordeste Brasileiro.
Para começo de conversa, quando tudo aconteceu, não existia nada dessas plantas aí, nem as árvores, muito menos as flores e gramas. Ali onde tem agora aquela árvore grande, bem na esquina, era onde ficava o “pau de sebo” nas festas juninas. A estradinha é a mesma, seguindo em frente, logo adiante tem um barranco bem alto onde a gente gostava de brincar de escorregador e no final começa a Rua Solidão. Uma ruazinha pequena, apenas quatro casas a da Dna Joana, a do seu Carlos barbeiro, a do pastor Genoino e a da benzedeira Dona Filomena. Casinhas simples, de barro e cobertas com sapé.
Do lado esquerdo da igreja é onde tinha e tem um grande espaço (é que a Ana Mônica não desenhou tudo), mas podem crer, bem ali, logo depois da parede lateral tem, como já disse um grande espaço, a escadaria com nove degraus e a grande porta de entrada.
É nesse espaço que o pipoqueiro Nenzinho ficava todos os domingos vendendo suas crocantes. É ali, na frente da igreja que a gente gostava de se reunir a noitinha para brincar de pique esconde, mãe da mula, pega pega, enquanto os mais velhos, (as meninas e meninos de doze treze anos) ficavam por ali de namorico, mas sem beijo e nem pegar na mão.
Nossa praça, nosso espaço, único espaço.
As festas juninas ali era realmente uma beleza. Pipoca, quentão, fogueira, dança de quadrilha, foguetório, pau de sebo, balão, algumas brigas, uma ou outra facada, coisas normais. Como era legal. Eu não via a hora de chegar logo os dias de festa. Vinha gente de longe assistir nossa alegria e enquanto nossos pais se divertiam dançando e comendo e às vezes brigando, nós, nos divertíamos amarrando “bombinhas” no rabo dos animais.
Gatos, cachorros, cavalos e bodes eram nossas vítimas preferidas. A gente chegava de mansinho, catava o bicho, amarrava a bombinha, colocava fogo, largávamos o coitado e saíamos correndo. Quando a bomba estourava o bicho ficava doido e fugia correndo pró mato.
Pois bem, tudo ali era comandado pelo temido Padre Florentino. Esse era o nome dele, mas todos o chamavam de Padre Tino. Alto, cabelos grisalhos, pele branca e cheia de pintinhas, mas quando ele ficava nervoso a pele avermelhava-se como pimenta. Os cabelos, sempre alvoroçados davam a impressão de ter levantado da cama a pouco e o vozeirão deixava sempre a impressão de que ele estava brigando.
Descendente de espanhol, sangue quente e desbocado, Padre Tino comandava a Igreja a mais de oito anos. Desde que o Padre Toninho se foi. Que Deus o tenha.
Teve um dia que o Padre Tino flagrou a Chinela, quero dizer, a Ana Maria filha da Dona Benta que a gente apelidou de Chinela porque ela só andava com um chinelo desses de dedo, sabe? Pois então, o padre chegou bem de mansinho ali atrás da igreja, na ponta do barranco e pegou ela dando um beijo no Perrela, filho do seu Fernando com a Dona Janaina macumbeira. Chiii presto não. O Padre mandou chamar a Dona Benta e a Dona Janaina. Dona Benta, católica fervorosa compareceu na hora, já a Dona Janaina, chegada no bati fú, (macumba) nem deu sinal. Não deu outra. Na missa do domingo o Padre Tino chamou os dois, Perrela e chinela, colocou uma imagem do nosso Senhor nas mãos dela e da nossa Senhora nas mãos dele. Adivinhem? Fez os dois ficarem beijando as imagens a missa inteira. Coitado do Perrela, beijou tanto que saiu da igreja com o bico inchado, prometendo nunca mais voltar. Mas na quinta a tarde ele já estava lá na aula de catecismo, só que ele não queria nem saber de ficar perto da chinela. Nem ele e nem ninguém.
Esse era o Padre Tino. Severo, sistemático, exigente e chato. Muito chato.
Já tinha é tempo que ele, o Padre, vinha reclamando da falta de fé do povo. Como é que pode gente, dizia ele, vocês vêm na missa todo domingo, rezam, fazem novena participam de tudo que eu promovo aqui na Igreja, mas falta fé, gente. Fé.
Todos olhavam, acenavam com a cabeça em sinal afirmativo e voltavam a conversar reparar um no outro, sem contar nas brincadeiras fora de hora.
Naquele domingo, quando ele chegou, já dava para ver que a coisa não estava bem. Carrancudo, com a batina preta e toda chapiscada de barro, denunciava que ele veio a pé e quando isso acontecia, ele chegava fulo da vida.
Na verdade o Padre não era daquela Igreja, ele era Padre oficial da Igreja de Cabrobó, cidade vizinha, distante cerca de uns trinta quilômetros. Aos domingos ele vinha rezava a missa para nós pela manhã e a tarde parti para cabrobró. Durante a semana ele ficava quase sempre em cabrobró. Graças a Deus. Cruz Credo.
O trato era de algum morador ir buscá-lo no domingo pela manhã e outro o levaria de volta a tarde, porém, quase sempre ninguém ia buscá-lo pela manhã e a tarde, bem, à tarde, nunca tinha ninguém na praça ou na igreja. Terminava a missa e todo mundo se mandava.
Ele chegou, mal cumprimentou o povo e foi pra sacristia se preparar.
Não ficou uma alma viva do lado de fora. Todo mundo já sabia que quando ele estava com aquela cara o negócio podia ficar feio. Até o pipoqueiro entrou, sentou e se pôs a rezar e bem alto para o padre perceber.
A missa começou.
Cantamos alguns hinos, ajoelhamos, levantamos, ajoelhamos, levantamos, ajoelhamos de novo, levantamos... aquelas coisas de sempre, até chegar a hora do tradicional sermão e aí.... lá veio o Padre com a velha cantinela: é preciso ter fé.
Meus filhos, disse ele, vejam o que está escrito aqui ó – apontou ele com o dedo indicador para uma página da bíblia que só ele tinha – aqui diz o seguinte: Mateus cápitulo 21 versículo 21 “em verdade vos digo, se tiverdes fé e não duvidardes se a este monte disserdes: ergue-te e lança-te no mar, isso será feito” – Todos se entreolharam com sinais evidentes de dúvidas e o Padre continuou – Entenderam? Mateus esta nos ensinando o que Jesus Cristo falou, e Ele, Jesus disse: “se tiveres fé e não duvidar pode dizer a um monte para que ele se mova e se jogue no mar e vai acontecer”.
Seu Venâncio levantou a mão timidamente e indagou: Padre esse monte que o senhor ta falando é monte de que mesmo? O Padre foi ficando vermelho, mas respondeu com bons modos:
Filho esse monte pode ser uma montanha, um grande problema, uma doença, uma necessidade...
Quer dizer que eu posso pedir para aquele barranco da peste de grande se mover?
Todos riram
Pode sim “seu” Venâncio, mas tem que pedir com fé. É preciso crer, ter fé, acreditar
Chiii bastou o seu Venâncio abrir caminho e pronto, a missa virou um forrobodó danado. Todos falavam ao mesmo tempo, uns concordavam, outros não entendiam, outros não botavam muita fé e foi então que o padre lançou mão do grande desafio que mudou a estória da minha querida cidade “cheirosa do agreste” e da nossa querida Igreja de Santo Antonio de Pádua.
Filhos eu vou fazer o seguinte: Eu vou pensar bem e vou dizer o que é que vocês devem trazer na próxima missa. Seja lá o que for, tragam. Tragam que nós vamos buscar junto a nossa fé camuflada – que diabo é isso? Indagou João calango – todos riram novamente – fé camuflada – disse o Padre – é aquela fé que existe dentro de nós e não sabemos, não exploramos – ahhhh bom –registrou calango. Então meus filhos, vocês terão uma semana, uma semana inteirinha para acreditar que o que vocês trarão aqui para a igreja domingo que vem se transformará em ouro.
o....u......ro!!!!! Exclamaram todos – seu gozado esfregou uma mão na outra e resmungou – o negócio ta ficando bom –
A missa terminou por aí. Não tinha mais condições de prosseguir. Ninguém mais queria saber de fé, crença, salvação, o negócio era ouro.
Seu padre, que negócio é esse de virar ouro? Isso vai dar uma quizumba danada – advertiu Dona Chaneide, ajudante número um do padre.
Tenha calma minha filha que eu sei o que estou fazendo – e passou a explicar: A senhora faz o seguinte – ele pegou um pedaço de papel e com as mãos trêmulas escreveu “Quem tiver fé, traga a maior quantidade de coco que puder domingo na missa. Para cada quilo de coco, pela fé, o transformaremos em ouro” – Dona Chaneide leu, releu e depois soletrou co co??? Mas padre o que é que vamos fazer com tanto coco, tem mais de cem pessoas na igreja, já imaginou se cada um trouxer um quilo de coco, serão 100 quilos é muito coco – Isso mesmo minha filha. Nós pegamos os cocos, fazemos cocadas, vendemos e pronto. Ouro é dinheiro, dinheiro é ouro, entendeu?
Não – disse ela resignada
É simples, eu recolho os cocos exploramos a fé de cada um até o máximo e depois cuidamos do negócio.
No domingo seguinte quando eu retornar com um dinheirinho para cada um, todos vão ficar felizes e passarão a acreditar mais em Deus.
É.... Olhando por esse lado, pode dar certo.
O padre se foi, deixando o rascunho de bilhete nas mãos da Dona Chaneide para que ela batesse a máquina e depois tirasse quantas cópias fossem necessárias para entregar uma para cada morador da cidade.
O problema é que Dona Chaneide viajou as pressas para a Capital na segunda feira, pois sua mãe havia sido internada. Ela conseguiu retornar somente na quinta quando todos já havia até se esquecido da proposta do padre. Apavorada por não ter cumprido o compromisso assumido, Dona Chaneide trabalhou a noite toda para produzir os bilhetes e conseguiu. Ficou até bonitinho o lembrete.
“Quem tiver fé, traga na missa do próximo domingo a maior quantidade de cocô que puder, mas tem que ser seu, não pode ser do vizinho, parente ou amigo. Para cada quilo de cocô que você trouxer, pela fé, o Padre Tino vai transformar em um quilo de ouro”.
Dona Chaneide achou melhor colocar essa advertência de que deveria ser da própria pessoa para evitar confusão, roubos etc.
Mal ela terminou de recortar cada lembrete e o telefone tocou. Tinha ela que voltar para a Capital, pois a mãe dela continuava internada é passando muito mal.
O que fez ela: Chamou o formiga, garoto esperto e tocador de boi, deu-lhe uns trocados e mandou que entregasse uma cópia do bilhete para cada morador da cidade. Para facilitar, o orientou a falar com a diretora da escola e entregar para cada criança uma cópia, explicando para entregar ao pai ou mãe.
Funcionou. Formiga foi na escola, falou com a diretora, Dona Flor que sonolenta e apegada no crochê que produzia, sequer leu a encomenda, autorizando formiga a ir de sala em sala entregar os bilhetes.
Nossa!!!
Foi como colocar fogo num rastilho de pólvora. Antes mesmo do meio dia era só o que se falava na cidade.
Mas ta aqui o bilhete do Padre ó? Mostrava seu Tozinho, na porta do boteco do Manoel gabiru –
Cocô? Indagou seu Manoel, o Padre enlouqueceu de vez é? I acumaé que esse medonho pensa em transformar cocô em ouro? –
Sei não – respondeu seu Tozinho, enquanto ele argumentava, já tinham três na porta do banheiro e cada um com uma vazilhazinha na mão.
Sabe como é né. Nessas horas ninguém quer ficar prá traz. To certo que transformar cocô em ouro não é lá essa coisa de sério, mas, pelo sim pelo não, quem quer ficar prá traz???? Ademais, cocô sai todo dia, é de graça, não custa nada fazer, então.... Porque não????
Quatro horas da tarde a notícia já era de domínio público. Era tal de gente com balde, panela, saquinho de mercado, cada um disfarçando como podia, mas um sabia do outro, todos iam defecar.
Engraçado foi na casa da Tininha, o pai dela, desses velhões carrancudos, não falava com ninguém, nem com a família. Vivia sentado numa cadeira de balanço, picando fumo para fazer seu fedorento cigarro de palha, de pijama e com aqueles inconfundíveis óculos, um vidro escuro e o outro normal transparente.
Ele não tinha o olho esquerdo.
Tininha chegou correndo, esbaforida, quase levou o portão no peito – Mãaaaae Manheeeee, nóis vamo fica rico ó mãe – mostrou ela o bilhete – o velho jagunço apenas levantou levemente a cabeça para espiar o que era, mas sem parar de picar o fumo e nem de balançar – e tininha continuou –
É mãe, tá todo mundo fazendo cocô pra levar domingo. Um quilo de cocô dá um quilo de ouro. Seu Jagunço, o Velho, disfarçou, deu dois tapinhas na barriga como se ela estivesse zangada, levantou meio escabrunhado, correu no quarto dele pegou um pinico e se mandou pro banheiro que ficava do lado de fora, ao chegar na porta...,
Fechada!!.
Ele deu três socos forte quase a colocando a baixos e responderam lá de dentro: tem gente
E desde quando tu lá é gente carcaça veia – vamo avia, se manda daí que eu quero fazê cocô
Ele falava com a velha Marieta, sogra, oitenta e dois anos, sendo sessenta e cinco brigando com o Jagunço
Calma ai animar, to fazendo cocô também e tem mais, comi uma feijoada daquelas no almoço e já to com mais de quilo por aqui
Ié sogrinha? mais de quilo? – animou-se jagunço arrumando as calças do pijama que teimava em cair mostrando sua gorda e cabeluda bunda surrada
Bom se é assim minha sogra, fique a vontade. Eu espero. Só tem uma coisa, quem vai guardar a merda da famia sou eu
Mais Pai – tem que ser da pessoa, não pode ser de parente, nem vizinho, nem amigo
Cala a boca menina, bosta é bosta e quem é que vai saber o que é minha o que é tua e o que é dela? Caga aí minha sogra, caga a vontade, embrulha direitinho e me dê.
Teve de tudo.
Pra se ter uma idéia, pois não é que o seu Raimundo Sabiá matou um boi reuniu a família e tacou carne em todo mundo e depois ficou atazanando os filhos e esposa perguntando toda hora: Ta com vontade Nenzinho? Ta com Vontade Matilde? Ta com vontade minha nega?
Já o trambiqueiro o Fernando Boca de sapo, esse não vai tomar jeito nunca. Acreditam que ele tava se dando o trabalho de misturar cocô dele (que morava sozinho) com cocô de animais (cavalo, cachorro, porco) – Vou roubar no peso – dizia ele triunfante, o bilhete diz que não pode ser de vizinho, parente e amigo, não fala nada de animais.
Engraçado foi a bela Chiquinha cabeleireira. A mais bonita da cidade.
Sempre bem vestida, perfumada, salto alto, cabelos longos e brilhantes, com franjinha e tudo e tímida. Muito tímida.
Ela comprou duas bacias e das grandes la no mercadinho do português. Tadinha ela tava numa pior, pai doente, aluguel do salão atrasado, grana curta, claro que ela sonhara também com pelo menos um quilo de ouro. Pelo sim pelo não, nas bacias daria bem uns quatro quilos, por baixo. O problema é que ela ficou com vergonha de sair pelas ruas com os recipientes nas mãos, pois todos saberiam que a linda donzela também iria ... se sabe né, seria para guardar fezes, o que ela fez? Pagou para o Ratinho, garoto sem pai nem mãe que vivia pela rua, roubando aqui e ali, para que ele levasse as bacias até sua casa. Vai meu filho, vai, leva as bacias. Vai à frente que eu já vou.
Ratinho mal saiu do mercadinho e todos começaram a gozá-lo –
Rato cagão – Ratinho caganeira – irritado e com muita vergonha ele berrou para quem quisesse ouvir: Não são minhas não, são da Chiquinha cabeleireira.
Coitada quase morreu de vergonha pois a molecada gritava em coro, seguindo-a pelas ruas: Cagona! Cagona! Ela sumiu da cidade no mesmo dia.
No sábado pela manhã tudo bem, mas quando foi dando lá pelo meio dia, sol alto, nenhuma brisa, o cheirinho começou a aparecer.
A tarde, lá pelas quatro, já era impossível comer algo, sentir algum outro cheiro que não o de bosta. Bosta amanhecida, bosta fresca, bosta.
Nem por isso, a saga pelo ouro fácil terminou. Era gente que ia, era gente que vinha, gente cagando no mato, gente brigando por um pequeno monte ressecado, pai batendo em filho por ter cagado pouco, mãe querendo largar o marido ressecado, crianças se empanturrando de doces pago pelos pais para fazerem uma boa obra e assim foi.
Finalmente o grande dia.
Domingo.
As oito da manha Já tinham bem uns vinte na porta da Igreja, cada qual com seu pacote, saco, sacola, bacia, a fedentina era insuportável. A criançada foi chegando também e todos falavam em uma só voz: o u r o.
Jesus!!!!.
Foi chegando gente, e chegando gente, seis acreditam que às nove horas já passavam das cem pessoas, vinha gente de longe com suas encomendas, só familiares do Manelão eram doze, depois descobriram que ele estava cobrando trinta por cento de cada parente para entrar no negócio, ou seja, para cada quilo de cocô de um parente ele ficava com 300 gramas , vezes doze, pronto, só ali ele já garantiu um quilo e seiscentas gramas de ouro, ou melhor, de cocô, por enquanto, cocô.
Quando o Padre chegou à igreja estava entupida..... de bosta. O povo tava do lado de fora.
Em nome de Jesus que que é isso? Indagou o padre com um lenço tapando as narinas
Cocô ué – respondeu prontamente alguém lá do fundo – Mas que cheiro é esse gente, seis tão doidos é?
Cheiro de cocô Padre. O senhor não falou para trazermos o máximo de cocô que pudéssemos
É e o senhor falou que ia transformar tudo em ouro – berrou ratinho – que logo foi repreendido – cala a boca menino – brigou Dona Benta
O Padre não podia entrar na igreja, pois o fedor só não era maior que a quantidade de fezes ali depositada. Foram 286 pessoas e 867 quilos. Quase uma tonelada.
Eu disse coco – Cadê a Dona Chaneide??
Alguém respondeu com a voz embargada – Ela foi prá capital à mãe dela morreu
O Padre coçou a cabeça, andou de um lado para outro com as mãos para trás, subiu num banquinho e tentou explicar, porém, ninguém quis ouvir, coco, cocô, fezes, bosta, excremento, merda...
Merda de vida.
Seu jagunço foi o primeiro a sair de fininho não sem antes jogar com raiva um garrafão cheio na parede, em seguida outro saiu de fininho, depois outro, e mais outro, no final ficou o Padre, o Ratinho e a Igreja largada com as portas abertas, e entupida de fezes.
Padre Tino sumiu. Nunca mais voltou prá nossa igrejinha. Ninguém quis cuidar da limpeza, Dona Chaneide ao ouvir falar do resultado, desapareceu e a coisa foi ficando, ficando, o cheiro foi sumindo, ladrões foram roubando, primeiro os bancos, depois o sino, enfim, levaram tudo.
E não é que as fezes acabaram adubando a terra e deu nisso. Nasceram as plantas, as flores e gramas. Hoje Já não tem mais cheiro de nada, mesmo assim, afora um ou outro casal forasteiro que ali se amoitam para fazer “coisa feia”, ninguém nunca mais ali entrou. Olha lá na parede o buraco que ficou quando o seu jagunço jogou o garrafão.
Soube por esses dias, que o Padre Tino não desistiu de adubar a fé do povo. Lá em cabrobró ele pretende se utilizar da mesma técnica, só que desta vez ele disse que vai pedir para trazerem maxixe. Ma...xixi.
Daí você vai me perguntar como é que eu soube dessa estória. Eu estava lá.
Pior de tudo é que, sabe como é né, vai que a coisa ia dar certo e eu não queria ficar de fora. Caguei também. Caguei sim. Enchi três sacolinhas de supermercado. O problema é que eu naquela correria toda acabei esquecendo as sacolinhas dentro do forno do fogão.
Eu guardei lá prá ninguém ver.
Merda!!!
Obs: O Padre estava certo. Pela fé aquele povo adubou a terra e recebeu em troca o verdadeiro ouro da vida que não é amarelo mas verde. Belas plantas e árvores, você não acha.
Mas que seria bom se fosse o amarelinho, lá isso era.
Fui!!!!!
Edson Marques.
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